Já falei aqui várias vezes sobre como me sinto sozinha desde criança, deslocada e esquisita e sobre como me sinto identificada com os versos cheios de “buts” de No Choir, uma canção do álbum que acho que deve ser considerado o piorzinho de Florence Welch: But the loneliness never left me, I always took it with me, but I can put it down in the pleasure of your company.
Houve quem me fizesse tomar essa atitude, deixar minha solidão de lado uns segundos, para ficar na companhia dele. Houve quem, mesmo eu tentando, me tenha deixado com a solidão ainda nas mãos, mesmo em companhia. Agora, há, e às vezes a solidão me pega pela minha língua, mas aí me lembro que tenho ainda mais outra para me fazer companhia.
O que eu não sabia era que ia terminar refletindo, nos últimos dias, sobre outro trecho da canção. And there will be no grand choirs to sing, no chorus will come in, no ballad will be written, it will be entirely forgotten. Faz uns anos que tudo parece tão memorável a ponto de nos saturar de absurdos: entre as imagens surreais da DANA, na Espanha, essa semana também nos brindou com o caso de um esquilo que foi sacrificado porque um influencer o usava para, entre outras coisas, angariar seguidores no OnlyFans. Não sei vocês, mas que todas as experiências privadas se tornem públicas têm igualmente me deixado exaurida.
Me pego mais uma vez me perguntando por que fazemos o que fazemos com nossas vidas nas redes sociais, descrevendo nossas rotinas minuciosamente, muito além do ato cerimonial da minha avó ao mandar cartas e fotos nossas para as irmãs na Itália: o compartilhamento da felicidade ordinária de ver os netos crescerem. Me pergunto se não é tão somente para nos sentirmos menos desesperadamente a sós ou se é, como dizem os adeptos da explicação da dopamina, apenas uma compulsão química a qual nos acostumamos, desde que os diários deixaram de ser em papel e passaram a estar na internet.
(Não me refiro obviamente a quem faz isso para ganhar dinheiro, porque daí são literalmente outros quinhentos e quem quiser pode ouvir a Rosana Pinheiro Machado falando sobre isso nesse episódio do Café da Manhã da Folha)
Digo isso porque desde a pandemia não era atingida de forma tão intensa por um “nossa, foda-se, amiga” ao abrir cada uma das redes sociais que frequento e me deparar com alguém anunciando que vai fazer algo (trabalhar) ou então exacerbando o que sente a respeito de qualquer coisa que seja. E sei que o problema é comigo e não com o original poster. Na pandemia, era depressão. Talvez agora eu esteja, finalmente, vivendo algo que não quero compartilhar com mais ninguém, de maneira egoísta, e nada mais parece importar muito.
Chama-se amor.
Também estou saturada do privado publicizado
Singelo 🩷🩷🩷